Translate

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Educação Escolar: políticas, estrutura e organização


Uma visão crítica e singular

 
Um Estado bem consolidado oferece uma educação básica universalizada e condições sociais favoráveis ao indivíduo. Assim não é o Brasil, ainda. Em 1929, com a quebra da Bolsa de Nova York, o Brasil afundou com a crise do café, porém enquanto uns se afogavam com o colapso econômico outros mudavam suas estratégias com a substituição das importações, alterando assim o comando da nação, que passou da elite agrária aos novos industriais. A intensificação do capitalismo industrial alterou as aspirações sociais em relação à educação, uma vez que nele eram exigidas condições mínimas para o ingresso no trabalho, enquanto na oligarquia rural a necessidade de instrução não era sentida nem pela população nem pelos poderes constituídos.
A consolidação do capitalismo no Brasil trouxe o aparecimento de novas exigências educacionais, melhor dizendo, a educação só surgiu no Brasil graças a movimentação do dinheiro, pois em dez anos, desde a quebra da bolsa, houve um desenvolvimento do ensino jamais registrado no país. Nesses dez anos, os cinco primeiros foram de um período centralizador da organização da educação até os interesses políticos entrarem em pauta. De boa intenção o inferno está cheio. Anísio Teixeira propôs a municipalização da educação no intuito de descentralizar o poder político no país. Talvez ele não tenha percebido que a descentralização e democratização da educação escolar no Brasil não podem ser discutidas independentemente do modo pelo qual é concebido o exercício do poder político no país, ou seja arquitetado plutocraticamente com o resto do planeta graças a globalização. E claro, desde o final do século XX, a descentralização da educação vem atrelada aos interesses neoliberais de diminuir gastos sociais do Estado.   
A atualidade foi construída através do processo histórico/político formado pela ambição totalitarista monetária, me permitindo o chiste, o PAM (Partido Ambicioso Monetário). No PAM não há praticamente lugar para o trabalhador desqualificado, incapaz de assimilar novas tecnologias, sem autonomia e sem iniciativa. A priorização da educação, nessa forma de governo, tem estado mais no discurso do que nas ações desde 1930 para o Brasil, sempre privilegiando apenas as famílias bem abastadas. Nem a racionalidade científica foi capaz de criar condições necessárias para um bom desenvolvimento do senso crítico da população em geral, pois levantando a bandeira da liberdade do ensino, as escolas privadas em 61 deram um jeito de receber recursos públicos. Foi criada então a empresa mais lucrativa da história. A Escola. Como o ser humano é um bicho adaptativo ele conseguiu achar lugar no novo sistema produtivo sendo um trabalhador cada vez mais polivalente, flexível, versátil, qualificado intelectual e tecnologicamente e capaz de se submeter a um contínuo processo de aprendizagem. Esse novo perfil de força do trabalho requer muita flexibilidade e funcionalidade.
Para comprovar nossas hipóteses do processo histórico, podemos ver que no campo da educação existem projetos que visam uma elevação da qualidade do ensino através da competitividade, da eficiência e da produtividade demandadas e exigidas pelo mercado, tratando-se obviamente de um critério mercadológico de ensino expresso no conceito de qualidade total.  A idéia é fazer um mercado educacional onde à pedagogia da concorrência, da eficiência e dos resultados se sobreponham a uma educação voltada para o reconhecimento à singularidade e aos próprios limites. Uma das condições que proporcionam esse assassinato do Eu são as avaliações constantes que medem o “desempenho” e a “qualidade” dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos, que conseqüentemente cria uma condição de competitividade, e para justificar tal corrida temos um investimento exacerbado em disciplinas, como Matemática e Ciências, graças à competição tecnológica mundial deixando a desejar matérias importantes como Filosofia, Sociologia, Antropologia entre outras.
Ao invés de um projeto educacional para a inclusão social e para a produção da igualdade temos um sistema onde a mobilidade social é pensada sob o enfoque estrito do desempenho individual. O neoliberalismo trouxe a globalização, que nada mais é do que uma tendência internacional do capitalismo que impõe aos países periféricos a economia de mercado global sem restrições a competição ilimitada e ao crescimento da exclusão social. Deixando claro que tendência não é destino nem obstáculo intransponível, devemos perceber que não é através da supervalorização da competitividade, do individualismo, da liberdade excessiva, da qualidade econômica e da eficiência para poucos e a exclusão da maioria que vamos ter um sistema não muito melhor do que o que já está instalado. Devemos gritar pelo incremento da solidariedade social, da formação de valores, da cidadania aplicada, da valorização do cuidado com o humano em todas as dimensões.
No contexto da sociedade contemporânea, a educação deveria ter uma tríplice responsabilidade: ser agente de mudanças estando capacitada a gerar conhecimentos e desenvolver ciências e tecnologias; trabalhar a tradição e os valores nacionais ante a pressão mundial de descaracterização das culturas periféricas; preparar cidadãos capazes de entender o mundo, seu país, sua realidade, seu universo e de transformá-lo positivamente. A formação da cidadania aplicada sugere cidadãos trabalhadores capazes de interferir criticamente na realidade para transformá-la, e não apenas para integrar o mercado de trabalho. A emancipação objetiva de todas as formas de dominação torna-se possível se os indivíduos desenvolverem capacidades de aprendizagem baseadas em uma prática comunicativa. Para isso, é necessário um investimento na capacidade de situar-se em relação aos outros, de estabelecer relações entre objetos, pessoas, idéias; desenvolver autonomia reconhecendo regras sociais relacionadas ao acordo mútuo, ao respeito ao outro e a reciprocidade; expressar idéias, desejos e vontades de forma cognitiva e verbal, incluindo a perspectiva do outro; investir na capacidade de dialogar. Só assim será possível reabilitar a sociedade no âmbito da esfera pública de forma tal que as pessoas possam participar das decisões não por imposição, mas por uma disposição de dialogar e de buscar consenso, com base na racionalidade.
                                                                                                          

Baseado no livro "Educação Escolar: políticas, estrutura e organização" de Libaneo e José Carlos que você pode achar aqui

                                            

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Manipulação Midiática

Sylvain Timsit e as 10 Estratégias de Manipulação Midiática.

Sylvain Timsit elaborou a lista das "10 estratégias de manipulação" através da mídia na sua concepção e na de quem quiser concordar:

1- A ESTRATÉGIA DA DISTRAÇÃO.
O elemento primordial do controle social é a estratégia da distração que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e econômicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distrações e de informações insignificantes. A estratégia da distração é igualmente indispensável para impedir ao público de interessar-se pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. "Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja como os outros animais (citação do texto 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')".

2- CRIAR PROBLEMAS, DEPOIS OFERECER SOLUÇÕES.
Este método também é chamado "problema-reação-solução". Cria-se um problema, uma "situação" prevista para causar certa reação no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise econômica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

3- A ESTRATÉGIA DA GRADAÇÃO.
Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, basta aplicá-la gradativamente, a conta-gotas, por anos consecutivos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas (neoliberalismo) foram impostas durante as décadas de 1980 e 1990: Estado mínimo, privatizações, precariedade, flexibilidade, desemprego em massa, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haveriam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de uma só vez.

4- A ESTRATÉGIA DO DEFERIDO.
Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo "dolorosa e necessária", obtendo a aceitação pública, no momento, para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, porque o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, porque o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que "tudo irá melhorar amanhã" e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

5- DIRIGIR-SE AO PÚBLICO COMO CRIANÇAS DE BAIXA IDADE.
A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entonação particularmente infantis, muitas vezes próximos à debilidade, como se o espectador fosse um menino de baixa idade ou um deficiente mental. Quanto mais se intente buscar enganar ao espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Por quê? "Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos ou menos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, a uma resposta ou reação também desprovida de um sentido crítico como a de uma pessoa de 12 anos ou menos de idade (ver "Armas silenciosas para guerras tranqüilas")".

6- UTILIZAR O ASPECTO EMOCIONAL MUITO MAIS DO QUE A REFLEXÃO.
Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos...

7- MANTER O PÚBLICO NA IGNORÂNCIA E NA MEDIOCRIDADE.
Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. "A qualidade da educação dada às classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores às classes sociais superiores seja e permaneça impossíveis para o alcance das classes inferiores (ver 'Armas silenciosas para guerras tranqüilas')".

8- ESTIMULAR O PÚBLICO A SER COMPLACENTE NA MEDIOCRIDADE.
Promover ao público a achar que é moda o fato de ser estúpido, vulgar e inculto...

9- REFORÇAR A REVOLTA PELA AUTOCULPABILIDADE.
Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo do qual um dos seus efeitos é a inibição da sua ação. E, sem ação, não há revolução! »

10- CONHECER MELHOR OS INDIVÍDUOS DO QUE ELES MESMOS SE CONHECEM.
No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o "sistema" tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o indivíduo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controle maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

Esse texto é de Sylvain Timsit e não de Noam Chomsky como muitos sites têm veiculado, o que o faz menos científico, porém não menos real. É só ligar a TV e constatar por si mesmo.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Como tudo começou...

Era uma tarde de mais um dia daqueles que o Sol nasce e morre sem dar satisfações a ninguém. Sem a claridade da estrela maior as mais distantes começaram a aparecer como vaga-lumes em um breu sem fim. O vento frio trazia um gosto de sangue dos lábios cortados pela tremedeira do bater de dentes. Tudo me lembrava o vazio. Sem rima, nexo, ou autoria se quer. Toda forma de conteúdo era apenas reverberação de pensamentos ressoando em uma caixa de sinapses aparentemente fechada para os estímulos exteriores. Ledo engano.

Vencido pela textura dos estímulos físicos, nítidos para minha percepção limitada, me vi sem importância diante da vasta imensidão que me rodeia. Decidi procurar um porque. A idéia era simples. Nunca acreditei muito nas coisas, mas a questão agora não estava apenas em acreditar ou não. Estava em entender o porque de existir.

Deve ser fácil ser gado quando já se nasce no pasto. Já nasce andando, mama, com o passar do tempo começa a mugir, se comunicar com seus semelhantes, passa a comer grama, se acostuma com os estímulos do ambiente, aprende que certos estímulos são desagradáveis, evita-os, é raptado pelo desejo ao sentir a fêmea, se excita, come mais grama, engorda, caga, peida. É incrível a semelhança com o homem, com algumas ressalvas, é claro. Mas a diferença maior é que o gado do pasto em um determinado momento será sacrificado para servir de alimento para seres que têm certa dificuldade para dar um sentido à vida. Mas eles morrem por um aparente motivo lógico.

Lei do mais forte. Cadeia alimentar? Afirmaram que o homem é um ser superior. Superioridade, nessa tão eloqüente afirmação, deve estar relacionada à condição de subjugar outros seres e/ou até mesmo os da mesma espécie.

Não sei. Depois de vislumbrar essas questões fiquei temeroso pelo que me espera. Será que devo me sentir responsável pelos feitos dos meus semelhantes no contexto geral? Continuo sem explicação para o existir. Talvez não esteja indo pelo caminho mais adequado. E se simplesmente não houver sentido para existir? Se fosse assim acho que eu não existiria. Talvez eu finja que existo e me mantenho respirando apenas para continuar tendo as sensações que aprendi a ter e de certa forma a controlar. Como elas não têm nenhuma ligação entre si eu posso...

...não têm ligação. As formigas andam em fila em direção ao seu formigueiro e recentemente descobri que isso acontece por causa de uma substância que elas deixam no caminho para que as outras possam se situar e continuar seguindo a fila. Se passarmos o dedo nesse rastro, a que vem logo depois fica perdida por um certo momento até achar de novo o caminho. Enquanto eu não sabia dessa tal substancia, aquela trilha de formigas andava em fila sem nenhuma ligação aparente.

Tem sempre um mártir nas histórias e mitos dos homens. Geralmente eles são representados como figuras muito importantes para a humanidade por trazerem em si um ideal. Algo que não é somente falado, mas é vivido por aquele que é extraordinário pelo ato de ser o que é e vive em prol de si mesmo chegando comumente a uma relação de amparo e solidariedade para com o outro. Muitas vezes trás em suas palavras algo relacionado a um caminho a seguir. Mas quem foi que passou o dedo no meu caminho? Não consigo me achar. Aliás, eu nem sei se um dia eu segui algum caminho. Eu teria meu próprio caminho ou deveria seguir o rastro do caminho dos outros? Quem sabe o meu caminho se confunda com o caminho de outros assim como as formigas, ou quem sabe o meu caminho eu tenha que trilhar sozinho, ou com um par. Com filhos?

Por que haveríamos de viver rodeados de tanta gente e ainda assim se sentir tão só? Medo de mostrar as nossas fraquezas. Há! Mas todo mundo tem fraquezas e talvez fraco mesmo seja aquele que não saiba se mostrar. Enquanto escondemos as fraquezas deixamos de mostrar nossa verdadeira força. Qualidades, dependendo do contexto são vistas como boas ou ruins. Mas no final creio que apenas sejam qualidades. Que devem ser usadas em alguns momentos e em outros nem tanto. Deveria eu continuar questionando o existir? Talvez. Mas enquanto eu não vejo nenhuma ligação entre os meus sentimentos acho que vou inventar um motivo para existir. Ele tem que fazer muito sentido, se não talvez eu possa estar menosprezando minha existência. Relacionarei minha historia de vida com minhas qualidades. Assim irei perceber com maior facilidade minhas dificuldades e também talvez perceba que tenho dons. Como usar esses dons é que vai ser a grande questão. Haveria sentido no egoísmo? Acho que sim, afinal de contas preciso sobreviver e assim pensar em mim mesmo. Só que eu não posso viver sozinho, existem outras pessoas que me acrescentam e muito, por sinal tenho prazer em servi-las. Ainda assim sou egoísta pois sirvo tendo prazer nisso.

Será que dá para amar só por amar?