Translate

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Antes arte do que tarde.


...
Eu pergunto: o que os artistas ditos contemporâneos, principalmente europeus e norte-americanos com sua arte para consumo estético, catastrófica e sem apontar esperanças, propõem para um projeto construtivo e humanista no século XXI?
Tenho sérias dúvidas sobre alguma resposta coerente e substancial quando visito as exposições e vejo apenas um deserto de idéias e ideais. Viajo só e felizmente por este país que antropofagicamente por natureza, e, infelizmente por ignorância e insegurança, come com exagerada gula, sardinhas enlatadas da cultura oficial: mídias e curadorias internacionais. E, para fomentar inclusões e aprovações de projetos, precisa fazer mais lobby do que vivenciar um verdadeiro processo criativo.
Este também é o Brasil da política dos subsídios econômicos incentivados pela cultura quase mercadológica do seu Ministério da Cultura e não, o da poética dos substratos culturais vindos da dinâmica criadora de seu povo.
É um país em que seus agentes sensíveis, os artistas, esquecem de cantar sua aldeia, e, por assim não interpretá-la, questioná-la e argüí-la, deixam de ser universais. Macaqueando a sintaxe globalizada e uniformizada, eles produzem obras para solitários ambientes museológicos, em vez de gerarem solidárias e responsáveis proposições e transgressões da realidade por meio do re-encantamento poético do humano e de seu mundo.
...
Muitos artistas interessantes caíram nessa armadilha, até mesmo os que ainda dialogavam experimentalmente com a Vida através da Arte e não da pressa voraz do mercado.
Aonde está uma Arte feita com as necessidades do espírito e a vontade visceral do prazer e não com as próprias vísceras, excrementos e outros elementos brutos para satisfazer a mera "sensation"? Para que chamar mais atenção da mídia, de colecionadores e "curadores" esdrúxulos e oportunistas do que da nossa necessidade real de educar a sensibilidade? Por que então não investir em afinar sensorialmente a consciência sensível de um público carente de agentes transformadores e transmutadores da realidade?
É precioso ler com atenção "O conceito ampliado de Arte" de Joseph Beuys, no qual referindo-se ao "princípio criativo", exige uma melhor forma de pensar, acuidade no sentir e verdadeiros critérios estéticos para nortear uma obra de Arte e seu papel na comunidade. E para isso o artista não precisa ter só uma inteligência criativa, é também necessário ter princípios filosóficos, éticos e espirituais.
...
Albert Einstein não estava brincando com o acaso quando disse que "Deus não joga dados". Até alguns executivos já sabem disso e percebem as extensões sutis e infinitas do despertar para uma mente não só ocasional e objetiva, mas consciente de um projeto incondicional de libertação. Por isso meditam e lêem livros sobre a nova ética escritos por Tenzin Gyatso, o Dalai Lama, Fritjof Capra ou Leonardo Boff. Enquanto isso, muitos "artistas ingênuos" e desinformados sobre o novo paradigma, lêem teorias acadêmicas sobre o vazio do vazio. Pior, pensam e agem com o egoísmo de uma arte individualista, esteticista, antiecológica e perversa em sua utilização da matéria orgânica. É preciso perguntar a pedra ou a uma árvore – como faziam nossos ancestrais do oriente – para saber o que elas querem ser, e não impor uma forma a suas matérias luminosas e inteligentes. Como artistas, somos também alquimistas e nos cabe recordar o que custou a Van Gogh o fato de descobrir que sua vida era a Arte, e, que a matéria de sua pintura era luz e energia.
...
- Que arte é essa onde o "curador", produtor e atravessadores culturais, são mais importantes do que a concepção e o sacro-ofício dos artistas?
Eu insisto: que espécie de seres são estes que deixam-se guiar mais por teorias estéticas pensadas na academia do que por suas intuições e vivências solidárias e responsáveis com o povo do seu país, a Natureza e a universalidade do planeta?
– Que arte é essa que agora não mais procura o "exercício experimental da liberdade" como nos desejava Mário Pedrosa e que não mais transgredindo o sistema, ainda se põe respaldada pela mídia e pela academia a serviço dos vícios da indústria do entretenimento cultural?
Para que serve esta arte: Que vira fetiche e curiosidade quantitativa do jornalismo em vez de inspiração privilegiada para o exercício sadio da crítica nos caderno culturais? Que é mero resultado fácil de mercado e "produto cultural" em vez de engrandecimento, instrumento de evolução da inteligência subjetiva e ascensão do espírito humano?
Portanto, eu quero como um revolucionário embora tardio, sacudir nossas atitudes viciadas em projetos de vida aprovados pela Lei de Incentivo à Cultura. E, por mendigarmos patrocínio nas empresas, que aliviam seu ônus econômico e às vezes até sua consciência pelo que prejudicam à saúde humana ou exploram e poluem indevidamente os recursos naturais. Tudo isso, muitas vezes para realizar mais uma exposição vazia, mais um cd sem amor à música, mais um teatro absurdo sem serviço à consciência planetária ou mais um balé para dançar narciso.
...
Por isso, eu desejo uma sabedoria que abandone a pretensão acadêmica de querer salvar o Mundo com o projeto inútil do acúmulo do conhecimento, em vez de querer a redenção da Terra pela nudez imensa da simplicidade do saber popular e natural.
...
É preciso exercitar com humildade o poder precioso de nosso livre-arbítrio na responsabilidade solidária com a Vida. Ou, todos faremos papel de passivas vítimas da barbárie globalizada.
Tudo o que nos resta é recuperar a dignidade de ser artista e estar habitado pela grandeza de se expressar como um cidadão incomum, indignado com a miséria que cria o estado de sobrevivência para os sem terra e esperança, os sem teto e alegria.
Agora é a hora dos ARTIVISTAS, mixagem de ativista político com o artista poético, e vice-versa, despertarem o acomodado brasileiro que dorme no berço esplêndido da inconsciência nacional.
O ARTIVISTA é aquele que vai dignificar sua escolha de ter vindo neste momento ao planeta e ao lembrar-se da sua Origem, exigir o melhor de sua herança Divina: a felicidade.
Nós merecemos uma Arte que nos inspire a um projeto mais humano e pacífico em nossa passagem de aprendizes da Terra.


Trechos do texto de: BENÉ FONTELES, Coordenador do "MOVIMENTO ARTISTAS PELA NATUREZA"
Você poderá encontrar esse texto na íntegra em: http://www.imediata.com/sambaqui/Bene/index.html